Racismo e sexualidade feminina: qual a relação?

Se, de um lado exercemos um trabalho a fim de quebrar os tabus referentes a sexualidade feminina uma vez que partirmos de um ponto em que somos vistas em sua maioria como “corpos intocáveis”, temos por outro lado as mulheres pretas que vivem uma narrativa oposta: A da hipersexualização.

Te convido a dar um passeio pelo passado e lembrar que as mulheres pretas eram escravas e viviam sob domínio dos homens brancos que as estupravam e mantinham relações extraconjugais. Não é difícil a gente perceber o histórico que se carrega até hoje né? Corpos pretos sendo vistos como mais “quentes” e servindo apenas para o prazer enquanto os corpos brancos se mantém virgens e são assumidos em relações públicas.

Contraste né? E o nome disso é racismo estrutural, e precisamos conversar sobre isso: todos os corpos de mulheres precisam ter sua integridade sexual e emocional respeitada e precisam também viver uma vida de liberdade e de escolhas conscientes.

Transcrevo agora um trecho de matéria do site do sindicato de psicologia de São Paulo:

“A mulher negra é cercada de dicotomias quando o assunto é seu corpo: por um lado, há um misto de invisibilidade e indesejabilidade quando o corpo feminino é negro, pois no mercado erótico, nas revistas masculinas e na representação midiática prevalecem as mulheres brancas e loiras como mulheres desejáveis. Mamilos, axilas e genitais negros, por exemplo, são considerados asquerosos, havendo uma infinidade de produtos com o fim de clarear essas partes. As qualidades sexualmente desejáveis são sempre aquelas associadas ao corpo da mulher branca e mesmo as características consideradas ruins, como o cabelo crespo ou nariz largo, são muito mais toleradas em uma mulher de pele clara.

Nas raras ocasiões em que a sociedade expressa algum desejo por mulheres negras, é quase sempre pela ideia de que a mulher negra é um “sabor diferente” e “mais apimentado” de mulher. O corpo feminino negro é hipersexualizado, considerado exótico e pecaminoso. Quem nunca ouviu falar que a mulher negra tem a “cor do pecado”? Essa é a brecha que sobrou para que o racismo continue a ser imposto às mulheres negras: a dicotomia do gostoso, exótico e diferente, mas que ao mesmo tempo é proibido, impensável, pecaminoso e não serve para o matrimônio ou monogamia.”

É impossível falarmos de sexualidade feminina sem diferenciar as histórias dos corpos brancos e pretos, porque o fato é que ambos são oprimidos mas de formas diferentes.

Precisamos lembrar sempre da diversidade contextual de cada realidade, sem negar a objetificação da mulher preta e reconhecendo que os pontos de partidas nessa luta não são iguais.”

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